Honduras: entre golpes e invasões

O golpe militar desferido em Honduras no último dia 28 chamou a atenção do mundo para esse pequeno e valoroso país da América Central. Num conluio entre setores do Congresso, o Judiciário e militares fascistas, os golpistas destituíram do governo o presidente da República, Manuel Zelaya, seqüestrado, preso, em pijama, e expulso do país. Foi um atentado à democracia, a interrupção de um ciclo político recentemente aberto no país, durante o qual o presidente Zelaya inclinou-se gradualmente para a defesa de posições progressistas e para o apoio ao conjunto dos governos democráticos e populares da América Latina.

Zelaya fizera seu país ingressar na ALBA, concertou alianças úteis ao desenvolvimento econômico e social do país, começou a distanciar-se das oligarquias retrógradas que sempre estiveram no poder. O governo de Manoel Zelaya sediou a reunião que pôs fim à absurda suspensão de Cuba da Organização dos Estados Americanos e realizou frutífero trabalho diplomático nesse sentido.

A derrubada de Manuel Zelaya provocou ampla condenação em todo o mundo, a maioria dos embaixadores retirou-se do país. Até os governos dos Estados Unidos e dos países da União Européia protestaram contra o golpe. Os golpistas ficaram internacionalmente isolados, ninguém reconhece seu governo. A Organização dos Estados Americanos e a ONU também condenaram o golpe e encontram-se empenhadas em esforços diplomáticos para a restituição do governo constitucional e legítimo de Zelaya.

De ilegal e arbitrário, o chamado governo provisório passou a ser também repressivo, com a proclamação do Estado de Emergência, prisões, violência policial e assassinato de manifestantes.

Contrariando toda a expectativa internacional, Manoel Zelaya ainda não pôde retornar ao seu país. A ditadura instalada impediu à força a aterrissagem do avião que reconduzia o presidente constitucional.

O povo brasileiro também manifesta a sua solidariedade ao povo hondurenho, cuja história tem sido pontilhada de grandes sofrimentos.

 

Honduras é um pequeno país da America Central, antigo território da civilização maia, com uma linda vegetação. A população é predominantemente indígena. Pelas difíceis circunstâncias históricas em que sempre viveu, o país ficou conhecido como a "República das Bananas", devido à enorme produção voltada à exportação pela companhia norteamericana United Fruit desde o início do século XX.

A companhia apoderou-se de enormes plantações ao norte do país, controlou portos, ferrovias e governos. Para apoiar a United Fruit os Estados Unidos invadiram militarmente Honduras sete vezes (1903, 1907, 1911, 1912, 1919,1924, 1925) e em 1933 impuseram a ditadura militar que durou até 1948.

Mas a história de Honduras é também de muita luta. A população se organizou em sindicatos e os trabalhadores e trabalhadoras, campesinos e campesinas fizeram uma greve geral em 1954 para reivindicar direitos trabalhistas. Isto aumentou a preocupação estadunidense com respeito às organizações políticas da América Central, e foi tomado como pretexto para a imposição de um protocolo militar, em agosto daquele ano, 60 dias após a greve.

Com este protocolo estabelece-se o marco jurídico para a instalação da base militar de Palmerola em 1983, e ao livre uso do território hondurenho para operações norteamericanas. Na luta contra a Nicarágua e El Salvador o país teve papel estratégico para a contenção dos processos revolucionários.

A oligarquia controla o Congresso, a Igreja e toda a renda do país cuja população vive com uma renda abaixo de um dólar ao dia. O Presidente Manuel Zelaya foi eleito democraticamente. Em Setembro de 2008 se tornou membro da ALBA (Alternativa Bolivariana das Américas) como uma forma de conseguir obter algumas vantagens para o desenvolvimento de Honduras – acesso a petróleo e industrialização, já que hoje só tem maquilas.

Nos últimos meses as organizações indígenas e campesinas vinham se manifestando contra o avanço das empresas transnacionais nas áreas de florestas, bosques e populações originárias.

Em fevereiro de 2009, os Estados Unidos desembolsaram 110 milhões de dólares para a instalação de uma nova base militar, no departamento de Gracia a Dios. A pedra fundamental dessa base foi colocada pelo embaixador, Hugo Lorrens.

A Constituição é ainda da época da ditadura, de 1982, período da "guerra de baixa intensidade" do presidente Ronald Reagan, uma carta bastante retrógrada e conservadora, que restringe a participação popular e outros direitos.

Manuel Zelaya não cometeu nenhum crime, nem violou a Constituição do país. A sua proposta de realizar uma Consulta Popular relacionada com a Assembléia Constitucional era legítima e democrática.

Os golpistas é que violaram os direitos do povo e rasgaram as leis fundamentais do país derrubando um presidente constitucional.

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* Tatiana Berringer é militante da Assembléia Popular
** Socorro Gomes é presidenta do Conselho Mundial da Paz e do Cebrapaz

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