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Comunidade internacional condena ataque de Israel a missão humanitária

Foi com estupor e indignação que a comunidade internacional reagiu ao ataque da Marinha de Israel ao comboio humanitário organizado pela ONG Free Gaza. A voz dissonante, mais uma vez, veio dos Estados Unidos, onde a Casa Branca lamentou — mas não condenou — o criminoso episódio.

Na manhã desta segunda-feira (31), a Marinha de Israel investiu contra uma frota de embarcações com ativistas pró-palestinos — que tentavam furar o bloqueio à Faixa de Gaza e entregar suprimentos à região. Segundo a TV israelense, pelo menos 16 pessoas morreram.

A missão da Free Gaza havia mobilizado um grupo de seis navios, liderados por uma embarcação turca, que transportava mais de 750 pessoas e 10 mil toneladas de ajuda humanitária para a faixa de Gaza. Além das mortes, houve dezenas de feridos. Entre as vítimas está uma brasileira de origem coreana — a cineasta Iara Lee.

A exata localização das embarcações é incerta. Israel teria advertido as embarcações para que não invadissem suas águas territoriais. Mas, segundo os ativistas, os barcos estavam em águas internacionais — a mais de 60 quilômetros da costa.

Segundo os termos dos acordos de paz de Oslo (1993), Israel mantém o controle das águas territoriais diante da faixa de Gaza em uma distância de 20 milhas (37 quilômetros. O país, no entanto, impôs um bloqueio quase total à entrada de mercadorias em Gaza desde que o grupo islâmico Hamas passou a exercer o controle da região, em junho de 2007. Israel diz que permite a entrada de 15 mil toneladas de
suprimentos de ajuda humanitária a Gaza a cada semana — mas a Organização das Nações Unidas diz que isso é menos de um quarto do necessário.

Brasil e Turquia condenam

O governo da Turquia — que auxiliava a missão humanitária — chamou seu embaixador em Israel para consultas em protesto ao ataque israelense. Segundo o vice-primeiro-ministro turco, Bülent Arinç, a Turquia suspendeu seus exercícios militares conjuntos com Israel — país com o qual havia criado uma forte relação econômica e militar.

Já o Brasil, por meio de um comunicado do governo federal, condenou “em termos veementes” os ataques de Israel. “Não há justificativa para intervenção militar em comboio pacífico, de caráter estritamente humanitário. O fato é agravado por ter ocorrido, segundo as informações disponíveis, em águas internacionais”.

Para o Itamaraty e o governo federal, “o incidente deva ser objeto de investigação independente, que esclareça plenamente os fatos à luz do Direito Humanitário e do Direito Internacional como um todo”. O governo convocou o embaixador de Israel ao Itamaraty para manifestar “preocupação com a situação da cidadã brasileira”. De acordo com a nota, o chanceler Celso Amorim determinou que fossem tomadas "providências imediatas para a localização da cidadã brasileira", em solidariedade aos familiares da cineasta, que enviaram carta ao ministério das Relações Exteriores.

O Brasil defende que o bloqueio imposto à faixa de Gaza seja levantado "imediatamente", com o objetivo de garantir a liberdade de locomoção de seus habitantes e o livre acesso de alimentos, remédios e bens de consumo aos territórios da região. A tragédia resultante da ação militar denota a necessidade de que o bloqueio israelense seja cancelado, diz o governo brasileiro.

EUA quase que mostram conivência

Nada se compara à fria declaração dos Estados Unidos sobre os atentados. Dizendo-se “preocupada” com a ação, a Casa Branca não condenou o ataque, que qualificou de “incidente” e “tragédia”. “Os Estados Unidos lamentam profundamente a perda das vidas e as lesões causadas, e está atualmente trabalhando para compreender as circunstâncias da tragédia”, disse o porta-voz da Casa Branca, William Burton.

O presidente Barack Obama estava em Chicago para o feriado do Memorial Day. Ele tem agendada uma reunião com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, na Casa Branca na terça-feira. No dia 9 de junho está previsto que ele se reúna com o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas.

De acordo com a rede de televisão NBC, havia 11 americanos na “Frota da Liberdade”, entre eles um ex-embaixador e um antigo funcionário do Departamento de Estado. Imagens amadoras divulgadas por grupo que levava ajuda humanitária até a Faixa de Gaza mostram soldados israelenses a bordo de um dos barcos, lutando para controlar os passageiros.

A ação de Israel constrange e isola ainda mais o governo Obama, já que põe em perigo as negociações indiretas entre israelenses e palestinos, que começaram recentemente sob a mediação do enviado especial americano, George Mitchell. O ataque de comandos israelenses contra a frota internacional foi alvo de críticas de toda a comunidade internacional. Mahmoud Abbas, por exemplo, qualificou o ataque de “massacre” e decretou três dias de luto,

Mais e mais repúdios

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, declarou estar chocado com o sangrento ataque israelense e pediu ao Estado hebreu que realize uma investigação a fundo sobre o fato. “Condeno essas violências. É vital que se realize uma investigação completa”, enfatizou em Campala, capital de Uganda, onde assiste à abertura de uma conferência sobre a Corte Penal Internacional.

A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, pediu às autoridades israelenses uma "investigação completa" sobre o ataque. De acordo a diplomata, a UE continua seriamente preocupada com a situação humanitária em Gaza e crê que o bloqueio é "inaceitável e politicamente contraproducente". Segundo Ashton, a comunidade europeia exige a "abertura imediata, incondicional e permanente" das vias de acesso a Gaza para permitir a chegada de ajuda humanitária, bens comerciais e pessoas.

O presidente francês, Nicolas Sarkozy, censurou o uso desproporcional da força contra a frota humanitária em Gaza e exigiu que a tragédia seja esclarecida. “Toda a luz deve ser lançada sobre as circunstâncias dessa tragédia, que enfatiza a urgência de reativar o processo de paz israelense-palestino”, afirmou o chefe de Estado francês.

Em Londres, o ministro das Relações Exteriores, William Hague, pediu a Israel que ponha fim às “inaceitáveis e contraproducentes restrições impostas às ajudas encaminhadas ao território palestino”. Segundo Hague, “há uma clara necessidade de que Israel atue com moderação e de acordo com as normas internacionais”.

Já a Alemanha – país que raramente critica Israel – comentou que a letal intervenção israelense contra um comboio pró-palestino é, “à primeira vista, de caráter desproporcional”, segundo o porta-voz do governo, Ulrich Wilhelm. “Os governos da Alemanha sempre reconheceram o direito de defesa de Israel, mas esse direito deve acontecer dentro de uma resposta proporcional”, disse Wilhelm.

Mundo islâmico indignado

Uma onda de protestos contra Israel tomou conta do mundo árabe. Na Turquia, manifestantes queimam bandeira israelense, e o governo anunciou ter ordenado que os preparativos para as manobras militares conjuntas com Israel fossem anulados. O Egito — que em 1979 se tornou o primeiro país árabe a assinar um tratado de paz com Israel — convocou o embaixador israelense depois do ataque.

O presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, denunciou o ataque do Exército israelense como “um ato desumano”, conforme a agência oficial Irna. “O ato desumano do regime sionista contra o povo palestino e o fato de impedir que a ajuda humanitária destinada à população chegasse a Gaza não é um sinal de força, e sim de fragilidade desse regime”, declarou. “Tudo isto mostra que o fim desse sinistro regime fantoche está mais perto do que nunca.”

O ministro de Defesa iraniano fez um apelo aos países do mundo para que cortem todas as relações com Israel após a morte dos ativistas. “O mínimo que a comunidade internacional deveria fazer com relação ao horrível crime cometido pelo regime sionista é boicotá-lo totalmente e cortar todas as relações diplomáticas, econômicas e políticas com o regime sionista”, disse Ahmad Vahidi, segundo a agência semioficial de notícias ILNA.

*Com informações das agências internacionais

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