O imperialismo norte-americano está nu. Em entrevista a jornalistas em Londres, o fundador do site WikiLeaks, Julian Assange, denunciou nesta segunda-feira (26) o descalabro da ofensiva dos Estados Unidos no Afeganistão.
Um dia antes, o seu site — uma espécie de Wikipedia de arquivos vazados — postou 91 mil documentos com registros militares americanos de seis anos da guerra contra o grupo islâmico Taleban (de janeiro 2004 a dezembro de 2009). O material traz evidências contundentes de crimes de guerra cometidos no Afeganistão.
Entre as irregularidades cometidas pelos Estados Unidos, sobressaem os incidentes não reportados de assassinato de civis e as operações secretas contra nomes do alto escalão taleban. De acordo com Assange, não há motivos para duvidar da veracidade dos documentos.
“Cabe à corte decidir se algo realmente é um crime, mas há evidência de crimes de guerra no material", diz o fundador do WikiLeaks. Segundo ele, tudo o que havia sido divulgado até agora sobre a guerra era apenas um "arranhão na superfície". A ideia do site é disseminar os documentos o mais amplamente possível, com completo anonimato das fontes, que fazem uploads anônimos e protegidos.
Tanto a Casa Branca quanto o governo britânico condenaram a divulgação dos dados. Os Estados Unidos, contudo, não negaram a autenticidade dos documentos, que revelariam bastidores muito mais cruéis do que eles gostariam de divulgar ao público. Assange denunciou ainda que o governo australiano está investigando a ele e outros membros da sua equipe, a pedido dos Estados Unidos.
Revelações
Entre as informações que vieram a público, os documentos afirmam que centenas de civis foram mortos sem conhecimento público e oficial pelas tropas de coalizão no Afeganistão. Planos secretos para exterminar líderes extremistas do Taleban e da Al Qaeda, bem como a discussão do suposto envolvimento de Irã e Paquistão no apoio a insurgentes, eram temas recorrentes aos líderes militares.
Os documentos informam que pelo menos 195 civis foram mortos e outros 174, feridos. O número, contudo, pode estar subestimado porque, em muitas missões, as tropas omitem esse tipo de acontecimento.
Erros que ocasionaram morte de civis também incluem o dia em que soldados franceses bombardearam um ônibus cheio de crianças em 2008, matando 8. Uma ronda similar feita pelas tropas norte-americanas matou 15 passageiros. Os documentos também apontam o extermínio de uma vila durante uma festa de casamento, incluindo uma mulher grávida, em um aparente ataque de vingança.
Além disso, os EUA acobertaram que o Taleban adquiriu mísseis aéreos — e que as tropas no Afeganistão mantinham ainda uma unidade de "caçadores" para "matar ou capturar" líderes do grupo terrorista sem julgamento.
Os documentos foram vazados primeiramente aos jornais britânico The Guardian, o alemão Der Spiegel e o norte-americano The New York Times. O jornal britânico também revelou documentos secretos que comprovam o desenvolvimento dessas ações pelas tropas de coalizão.
Com informações da Associated Press