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Egito e Panamá: um romance de amor e indignação

As pessoas sensatas e com espírito solidário no planeta contemplam com satisfação a queda da arquitetura de dominação estadunidense e de seus parceiros imperialistas e sionistas em Magrebe e no Médio Oriente, que garantiu e prolongou indefinidamente o controle das transnacionais petrolíferas ao redor do mundo e de seus povos.

O povo egípcio luta por sua liberdade, direitos humanos, dignidade e pelo direito legítimo de todos os povos da região de construir a unidade política pan-árabe.

Nós, cidadãos da América Latina, estamos na mesma perspectiva de construir a unidade dos nossos povos e aproveitar a riqueza de nossas terras em benefício de seus filhos e não de um cartel de imperialistas e oligarcas plutocratas egoístas e aliados.

No Panamá, a compreensão da transcendência da luta do povo egípcio contra os tiranos e opressores deve ser assumida obrigatoriamente, em virtude do paralelo entre as lutas de ambos os povos.

O Panamá e o Egito foram sulcados por canais, que partiram de suas entranhas, em benefício alheio e não em seu próprio benefício. As presenças coloniais – britânica no Egito e estadunidense no Panamá – têm semelhanças. E é a causa pela qual as lutas do povo egípcio aninharam-se calorosamente nos corações e mentes dos panamenhos.

Em 26 de julho de 1956, jovens e estudantes panamenhos somaram-se com entusiasmo provocado pelo impacto que as notícias internacionais sobre a nacionalização do canal egípcia. “Sim, é possível nacionalizar também o Canal do Panamá”, era o pensamento que corria animadamente entre os jovens! Um ano após o lançamento do primeiro Sputnik, também se observou que era possível a cobertura tecnológica amiga ante a implantação imperialista; dois anos depois, o triunfo da Revolução Cubana anunciava a possibilidade de construir seus próprios projetos políticos. “Tudo é possível!”, bradavam esperançosos os estudantes panamenhos. Uma gama de possibilidades pavimentou o caminho para o pronunciamento nacional em 09 de janeiro de 1964, lançando o lema contido nos corações: a revogação dos tratados desiguais, também é possível!

A revogação dos tratados desiguais no Egito significou também um controvertido caminho ideológico: a possibilidade de que ante uma incipiente cultural e participação dos cidadãos dos nossos países, que na baixa
proletarização dos trabalhadores e camponeses migrantes, um grupo de militares com vocação patriótica construísse um caminho de atalho político para implantar as tarefas atrasadas da revolução democrático-burguesa. Por ser Nasser a figura principal desse movimento, essa tendência foi chamada nasserismo. Houve militares patriotas também no Panamá e na América Latina, uma das razões daquela experiência ser alvo de avaliações permanentes.

Hoje, quando o aumento da protagonização da cidadania ergue-se para entrar em choque com a onda violenta contra os muros de contenção representados pelo controle midiático cultural das transnacionais, é justa uma avaliação positiva do tempo histórico que significou essa tendência.

Portanto, a solidariedade com o Egito e seu povo é uma flor eterna em nossos corações e exigindo a saída de poder de Mubarak e seu bando de repressores e corruptos, enquanto alertarmos contra as intenções imperialistas de desviar as águas turbulentas da raiva egípcia para canais de solução eleitoral, sem uma mudança substancial. O povo egípcio não vai tolerar isso.

Panamá, 3 de fevereiro de 2011.
Conselho Nacional para a Defesa da Soberania e Paz
Organização membro do CONSELHO MUNDIAL DA PAZ

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