Discurso de Socorro Gomes, Presidenta do CEBRAPAZ e do Conselho Mundial da Paz durante a Terceira Conferência Internacional pela Abolição das Bases Militares Estrangeiras e o Fechamento da Base de Guantânamo.
Queridas e queridos companheiras e companheiros;
É com imenso júbilo que inauguramos a Terceira Conferência Internacional pela abolição das bases militares estrangeiras e o fechamento da base de Guantânamo. Agradecendo mais uma vez a proverbial hospitalidade do povo cubano, saúdo com entusiasmo o governo do vosso País e o Comando da Revolução, trazendo o abraço dos que lutam pela paz em todo o mundo ao seu líder histórico, Fidel Castro, e ao presidente Raúl Castro.
Alegra-nos observar que o povo cubano encontra-se imerso em grande mobilização nacional para edificar a nova economia do país, trilhar os caminhos do desenvolvimento e aperfeiçoar seu sistema de bem-estar social, de acordo com os lineamentos para a edificação do novo modelo econômico socialista, com as particularidadescubanas, traçados pelo Comando da Revolução.
Quisera ainda, na abertura do evento, expressar a nossa irrestrita solidariedade à luta pelo fim do injusto bloqueio imposto ao vosso País pelo imperialismo estadunidense. Nos últimos dias de outubro passado, numa demonstração do apoio universal à causa cubana, a Assembleia Geral da ONU votou pela 22ª consecutiva uma moção condenando o bloqueio, com o voto favorável de 188 países-membros. Apenas dois países — Estados Unidos e Israel — foram contra o fim do bloqueio, três se abstiveram e dois não votaram.
Igualmente, gostaria de, no início da nossa reunião, deixar consignado o indeclinável apoio do Conselho Mundial da Paz à luta pela libertação dos Patriotas e Heróis cubanos presos nos cárceres do império. Gerardo Hernández, Antonio Guerrero, Ramón Labañino e Fernando González são protótipos do caráter resistente e combatente do povo cubano e a sua permanência como prisioneiros do império é uma ata de acusação às injustiças de um sistema político de dominação contrário aos princípios da democracia e dos direitos humanos.
Queridas companheiras e queridos companheiros,
Estamos aqui para juntar às vossas as nossas vozes pelo fechamento da base militar de Guantânamo e pela devolução do território usurpado aos seus verdadeiros donos, Cuba e seu povo.
Localizada a 64 km da cidade de Santiago de Cuba, abarcando uma área de 117,6 quilômetros quadrados, sendo 49,4 km de terra firme e o restante de água e pântano, delimita uma linha de costa de 17,5 km. O território é estratégico para o controle marítimo entre o Caribe e o Atlântico. Ultimamente, desde que os Estados Unidos proclamaram a chamada guerra ao terrorismo, a base militar passou a abrigar um presídio em que se praticam arbitrariedades contra acusados de planejar e cometer atentados aos Estados Unidos. O presidente Barack Obama prometeu que iria fechar a prisão, mas até hoje não cumpriu. A manutenção da base militar sob controle estadunidense atenta contra a soberania nacional cubana e constitui uma ameaça aos demais países caribenhos. Lutar por seu desmantelamento, pelo fechamento desta masmorra , e a devolução do território à soberania cubana é dever de todos os que sinceramente querem um mundo de paz.
Companheiras e companheiros, a nossa Conferência realiza-se em um momento de grandes tensões mundiais, com implicações importantes para a luta dos trabalhadores e das nações do mundo pela soberania nacional e a paz. Reina na situaçãointernacional a instabilidade e a insegurança, atuam terríveis contradições políticas e sociais, sucedem-se agudos conflitos e são cada vez mais brutais as ameaças aos povos.
A agressão dos países imperialistas aos direitos dos povos é a resposta que dá o sistema imperante no momento em que se vive uma das piores, senão a pior, crise econômica e financeira de todos os tempos. Uma crise crônica, prolongada, profunda, generalizada, que cobra um preço impagável aos trabalhadores, aos povos e às nações dependentes e pobres. A crise é multidimensional, não se manifesta apenas na esfera econômico-financeira. É também uma crise energética, alimentar e ambiental.
Está em curso uma ofensiva militarista no mundo, encabeçada pelo imperialismo estadunidense. Tal ofensiva é generalizada, mas se concentra principalmente nas regiões ricas em recursos naturais, matérias-primas, e fontes de energia. Igualmente, esta ofensiva está ligada à tentativa de domínio de mercados, da água ou minerais usados em tecnologias de ponta.
A eleição de um presidente democrata nos Estados Unidos, em 2008 despertou grandes ilusões. O aparato de propaganda do imperialismo desencadeou uma campanha diversionista na tentativa de demonstrar as possibilidades de que a partir deste fato, o mundo ingressaria numa era de paz, multilateralismo e respeito ao direito internacional. O novo presidente dos Estados Unidos chegou mesmo a ser agraciado com o Prêmio Nobel da Paz
Não obstante, a verdade dos fatos é a reafirmação dos intentos de dominação e hegemonia mundial pelos Estados Unidos e a explicitação do objetivo – feita por Barack Obama nas duas campanhas eleitorais e em diferentes pronunciamentos durante os cinco anos decorridos até aqui da sua administração – de assegurara superioridade dos Estados Unidos no mundo, inclusive no setor militar.
Tal como os seus antecessores, o governo de Barack Obama também elaborou e põe em prática uma Estratégia militar, em que o tema é enfocado sob diversos aspectos.
A administração Obama retomou os preceitos do Projeto para um Novo Século Americanoem que se encontra toda a projeção ideológica da cruzada militarista dos Estados Unidos. Não é ocioso recordar que Obama enfatizou : “Atualmente os Estados Unidos não têm nenhum rival mundial. O objetivo da grande estratégia dos Estados Unidos deve ser preservar e estender esta posição vantajosa o maior tempo possível (…) Preservar esta situação estratégica desejável na qual se encontram os Estados Unidos, neste momento, exige capacidades militares predominantes em nível mundial”. “O maior tempo possível”.
Obama fez alguns acenos retóricos sobre a redução da quantidade e do papel das armas nucleares, mas rigorosamente os Estados Unidos, também sob sua presidência, nunca se comprometeram incondicionalmentea não utilizar a arma nuclear contra outros países, nem a destruir os seus arsenais dessas armas letais que ameaçam a própria sobrevivência da humanidade. Pelo contrário, o cenário é de manutenção da superioridade nuclear sobre as demais potências, particularmente a Rússia e a China, seus principais rivais nesse terreno.
A estratégia militar do governo de Barack Obama continua priorizando a instalação de um sistema antimísseis e o reforço do pacto militar agressivo da Otan, em comum com seus parceiros europeus.
A estratégia militar do imperialismo estadunidense incorporou a perseguição e o assassinato de pessoas suspeitas de praticar ou planificar a execução de atos terroristas “em qualquer lugar obscuro” do planeta, conforme preconizava a doutrina Bush. A estrutura encarregada dessas ações é o chamado Socom, um microcosmo do Departamento de Defesa integrado por componentes de terra, mar e ar, com presença global, faculdades e responsabilidades militares. A estrutura essencial do Socom é o Comando Conjunto de Operações Especiais, que informa e responde diretamente ao presidente da República. Esta estrutura de ações militares encobertas tem sua própria divisão de espionagem, aviões não tripulados e de reconhecimento, satélites e “ciberguerreros”. O véu de clandestinidade que envolvia essas forças especiais começou a ser rasgado sob a administração Obama, depois da operação que resultou na morte de Osama bin Laden, em 2 de maio de 2010, no Paquistão, demonstrando que os soldados dos Estados Unidos têm “licença” para matar em qualquer parte do mundo onde se encontrem instalados.
Ultimamente, o Pentágono agregou às motivações anteriormente invocadas para intensificar suas ações militares o pretexto das “ameaças cibernéticas”. Os maiores fornecedores do Pentágono – incluindo Lockheed Martin, Boeing e NorthropGrumman – investiram no crescente terreno da cibertecnologiapara uso militar, o que está também relacionado com a intensa espionagem na internet, de que não escapam os chefes de Estado, inclusive aqueles aliados aos Estados Unidos.
A “Doutrina Obama” manteve os planos de ataques preventivos ou de represálias militares contra supostas ameaças à “segurança nacional”, aos “direitos humanos” e à “democracia”.
É nesta perspectiva que se enquadram a guerra contra a Líbia, as ameaças de intervenção na Síria, as ameaças ao Irã e à República Popular Democrática da Coreia, assim como as operações no território do Paquistão.
A estratégia militar de Obama encaixa-se nos objetivos permanentes do imperialismo norte-americano de continuar sendo o único país a exercer uma dominação militar globalcom a manutenção e a extensão de bases militares, tropas, porta-aviões e bombardeiros estratégicos em todas as latitudes do planeta.
Fazem parte do fabuloso arsenal utilizado para neutralizar e destruir as defesas aéreas e estratégicas de praticamente todas as forças militares importantes de outras nações, os mísseis balísticos intercontinentais, mísseis balísticos adaptados para o lançamento em submarinos, mísseis de cruzeiro, bombardeiros hipersônicos e bombardeiros capazes de evitar a detecção por radar e evitar as defesas baseadas em terra e ar. Unido a este poderio, os Estados Unidos aperfeiçoaram e intensificaram os programas de guerra espacial para paralisar os sistemas de vigilância e comando militar, controle, comunicações, informáticos e de inteligência de outras nações.
Os gastos militares para sustentar esta poderosa máquina de guerra remontam a 750 bilhões de dólares. Quase umterço desse montante é dedicado a manter as 865 bases e instalações militares que os Estados Unidos têm em mais de 40 países; em seu conjunto, o custo total para o tesouro estadunidense das guerras no Iraque, Afeganistão e as incursões em território paquistanês foi de cerca de 3,7 trilhões de dólares.
A administração Obama faz uso crescente dos aviões não tripulados (“drones”), que se converteram na principal arma dos Estados Unidos em seus esforços para derrotar a Al-Qaeda e espionar os governos que não são do agrado da Casa Branca. Por exemplo, no Paquistão a CIA incrementou drasticamente os ataques com aviões não tripulados contra objetivos de “alto valor” da Al-Qaeda e do movimento Talibã.
Companheiras e companheiros,
A América Latina e o Caribe estão incluídas nessas concepções e ações militaristas e no alvo da Doutrina Obama . A Quarta Frota, as 76 bases militares de diferentes capacidades, o desenvolvimento de forças e meiosmilitares norte-americanos para intervir em qualquer ponto da região, a oposição sistemática aos governos progressistas, tudo isso se encaixa na Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos.
Para esta potência imperialista, a América Latina e o Caribe continuam sendo uma prioridade na Estratégia de Segurança Nacional e na grande estratégia dos círculos dominantes estadunidenses, para poder manter o acesso e o controle sobre os recursos naturais e econômicos, o domínio dos mercados, o acesso às fontes primárias de energia, a preservação do sistema de colonizaçãoideológico, cultural e a contenção daquelas forças políticas, movimentos ou processos revolucionários que pretendam desafiar as bases fundamentais de sua dominação global.
E toda essa hostilidade imperial se deve a que, desde a América Latina e o Caribe, surgiram poderosas e dinâmicas alianças regionais, que buscaram configurar um espaço político de independência em face dos Estados Unidos e da União Europeia. A Aliança Bolivariana para os povos de Nossa América (Alba) avançou em um projeto de vanguarda de governos progressistas e anti-imperialistas, buscando fórmulas de ruptura com a ordem internacional imperante e fortalecendo a capacidade dos povos de fazer frente, coletivamente, aos grandes potentados internacionais.
A isso se acrescenta o impulso decidido que tem sido dado á União das Nações Sul-americanas (Unasul, bloco político de que fazem parte os 12 Estados soberanos de América do Sul. E para além de tudo isso, os 33 países da América Latina e do Caribe trabalharam unidos para o salto histórico que foi a fundação nos dias 2 e 3 de dezembrode 2011, da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), para a integração real da região e a consolidação da independência e da soberania de “Nossa América”, sem a presença dos Estados Unidos e do Canadá.
Companheiras e companheiros,
A luta pela paz mundial é indissociável do combate à política de guerra dos Estados Unidos e aos seus planos militaristas.
Nesse sentido, devemos agregar à nossa campanha pelo desmantelamento das bases militares estrangeiras a luta pela eliminação das armas nucleares, das armas químicase de todas as armas de destruição em massa.
Associamo-nos à iniciativa do Movimento de Países Não Alinhados junto à Assembleia Geral das Nações Unidas em favor do desarmamento nuclear.
Por último saudamos os avanços conquistados nas negociações de paz pelas forças revolucionarias colombianas Farcs e o governo na busca da Paz.
Guantânamo, Cuba, novembro de 2013.