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Conselho da Paz estadunidense rechaça política externa de Trump e convoca ao protesto

Membro do Secretariado do Conselho Mundial da Paz, o Conselho da Paz dos EUA manifestou contundente rechaço ao recente discurso do presidente Donald Trump na Assembleia Geral das Nações Unidas, já amplamente condenado por movimentos sociais e governos de todo o mundo. No texto, publicado em 24 de setembro, a organização estadunidense apela às forças nacionais por uma mobilização massiva contra a política externa beligerante e imperialista exposta por Trump dias antes, na sede da ONU. Leia o texto a seguir:

Na Assembleia Geral das Nações Unidas, Trump obliterou a Carta da ONU e declarou guerra contra o mundo

O Movimento da Paz dos EUA não deve e não pode se deixar continuar em silêncio

Conselho da Paz dos EUA – 24 de setembro de 2017

Presidente Trump:

Mas:

Deixamos as próprias palavras do presidente Trump nas Nações Unidas falarem por si. Seu discurso na Assembleia Geral da ONU em 19 de setembro de 2017 foi o ápice da desonestidade, da hipocrisia, do grandiosismo imperialista e um desprezo completo pela Carta das Nações Unidas e o direito internacional. Também manifestou a intenção do governo estadunidense de reavivar a velha Guerra Fria.

Trump falou da “ameaça nuclear” da Coreia do Norte, chamando o líder daquele país de “Homem Foguete”, sem mencionar que os EUA e as forças aliadas estão, ao mesmo tempo, realizando exercícios militares nas fronteiras norte-coreanas, com o objetivo de uma potencial invasão daquele país. Tampouco mencionou o fato de os EUA terem instalado [sistemas] antimísseis para ataque preemptivo próximo às fronteiras norte-coreanas e que mantêm mais de 23 mil soldados na Coreia do Sul.

Trump falou da “ameaça nuclear” do Irã enquanto o Irã, cercado por todos os lados pelas forças nucleares estadunidenses, assinou um acordo com os Estados Unidos e cinco outros estados para evitar o desenvolvimento de armas nucleares.

Trump falou do “regime criminoso de Bashar al-Assad” enquanto dezenas de milhares de terroristas criminosos, armados e financiados pelos Estados Unidos e seus aliados, causam devastação ao povo sírio, sob a proteção das forças terrestres e aéreas ilegais dos EUA na Síria.

Trump falou do “regime desestabilizador de Cuba” sem mencionar o fato de que o governo estadunidense e a CIA terem persistentemente tentado desestabilizar a revolução cubana e seu governo, assassinar seu líder, ocupar ilegalmente o seu território de Guantánamo e manter o bloqueio estadunidense de Cuba em violação das reiteradas resoluções da mesma Assembleia Geral da ONU à qual se dirigia.

Trump falou de “tomar uma atitude” contra a “ditadura socialista” do presidente Maduro caso a “Venezuela insista no seu curso.” (No passado, ele também afirmou que “não iria descartar a opção militar” contra a Venezuela.) Mas ele escondeu o fato de que foram os Estados Unidos que agiram ilegalmente contra a democracia na Venezuela quando ensaiou o golpe contra o então democraticamente eleito presidente Hugo Chávez, e que ainda o fazem ao tentar derrubar o atual presidente democraticamente eleito, Nicolás Maduro.

Está claro, pelas palavras de Trump, que o “caminho” que mais o preocupa, não só na Venezuela, mas também em Cuba, é o caminho da saúde gratuita, da educação gratuita, dos serviços públicos gratuitos para todas as pessoas; um caminho que Trump tenta bloquear e reverter em seu próprio país.

Infelizmente, toda a atenção da mídia corporativa e a maior parte das objeções do movimento da paz ao discurso do presidente Trump têm focado apenas em suas ameaças contra a Coreia do Norte e à óbvia necessidade de desescalada das tensões. Mas por mais importante e urgente que isso seja, trata-se de negligenciar o quadro geral.

Analisando o discurso completo, fica bastante claro que a situação é muito mais perigosa do que aparenta. Estamos lidando agora com um desvio qualitativo na política externa oficial estadunidense – ironicamente anunciado na sede das Nações Unidas – para afastá-la dos princípios da Carta da ONU e do direito internacional, em direção a uma declaração unilateral de guerra e intervenção, pelos Estados Unidos, contra qualquer país que se coloque no caminho da sua ambição por dominação global.

A política de Trump “A América* primeiro”, como anunciada por ele nas Nações Unidas, estará no centro da política externa do governo estadunidense a partir de agora. Isso significa um rearranjo total das relações internacionais de forma a servir apenas aos Estados Unidos e aos seus interesses estratégicos e econômicos. Obviamente, tal política imperialista, como exposta por Trump em seu discurso nas Nações Unidas, não pode ser promovida sem violar os princípios da Carta da ONU e o direito internacional.

O movimento da paz estadunidense tem responsabilidade especial no impedimento de tal resultado catastrófico. Mas nenhuma proclamação ou declaração pública pode sozinha impedir a catástrofe. O que é urgentemente necessário é uma frente unificada, antiguerra, anti-intervencionista, composta por todos os segmentos do movimento da paz capaz de mobilizar um movimento de massa eficaz contra o imperialismo e a guerra.

O Conselho da Paz dos EUA insta a todas as organizações de paz nos EUA a realizar protestos locais, regionais e nacionais e a visitar membros do Congresso, incluindo ocupações simbólicas, e a exigir que o governo estadunidense:

O Conselho da Paz dos EUA está pronto para se unir a todas as forças da paz para organizar os protestos massivos mais amplos possíveis contra a política externa estadunidense extremamente beligerante e imperialista anunciada por Donald Trump nas Nações Unidas.

* “América” significando Estados Unidos. [N.T.]

Fonte: US Peace Council
Tradução: Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz) / Moara Crivelente

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