Saeb Erekat viveu pela paz: entidades lamentam a perda do diplomata palestino

Faleceu nesta terça-feira (10), devido à Covid-19, aquele que ficou conhecido como o chefe da diplomacia palestina, secretário-geral do Comitê Executivo da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Saeb Erekat. Diversas autoridades e forças solidárias manifestaram suas condolências e, como o Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), a convicção de que o povo palestino saberá inspirar-se pelo exemplo e seguir defendendo sua justa causa. Vários meios têm destacado seus contributos.

Saeb Erekat nasceu em Jerusalém em 1955 e dedicou a vida à diplomacia, da faculdade –graduado em Relações Internacionais, com mestrado e doutorado em Ciência Política e em Estudos da Paz e dos Conflitos– até participar dos primeiros passos do processo de paz lançado no início dos anos 1990. Foi o vice-líder da delegação diplomática palestina à Conferência de Madri e assim acompanhou as negociações subsequentes em Washington, em 1992-1993. Em 1994, foi nomeado o líder da equipe de negociações palestina.

Desde então, participou ou liderou os vários intentos diplomáticos em que os palestinos apostaram, lutando pela implementação da prometida solução de dois estados, inclusive as negociações de Camp David (2000), Taba (2001) e os intentos de 2013-2014. Também participou dos esforços diplomáticos dos palestinos por fazer reconhecer o seu Estado, diante do desprezo da liderança israelense por uma solução justa conducente à paz.

Antes da carreira diplomática, Erekat foi professor em universidades palestinas, ministro do Governo Local, chefe da Comissão Eleitoral e, eleito em 1996, membro do Conselho Legislativo Palestino. Era também membro do Comitê Central do Fatah e, desde 2015, secretário-geral do Comitê Executivo da OLP, de acordo com a agência palestina de notícias Wafa.

Alguns meios têm relembrado os contributos e as firmes posições expressas pelo diplomata ao longo dos anos, na dedicação à luta do seu povo. O diário israelense Haaretz, para o qual Erekat escreveu inúmeros artigos de opinião, lamentou a perda do incansável defensor da solução pacífica e fez uma compilação em que destacou o repúdio do diplomata à deterioração da situação provocada pelo governo de Donald Trump nos Estados Unidos, aliado incondicional de Israel.

Saeb Erekat talking to reporters at the Annapolis conference attended by President George W. Bush, Israeli Prime Minister Ehud Olmert and Palestinian President Mahmoud Abbas. November 27, 2007.

Erekat respondeu às acusações do governo estadunidense contra a Autoridade Palestina por apoiar as famílias de prisioneiros palestinos padecendo no cárcere israelense, defendendo a política da alegação de que isso equivale a financiar o terrorismo e denunciando a tática de culpar as vítimas, ao invés de responsabilizar o agressor.

Mais recentemente, após duas décadas de impasse diplomático e diante da evidente persistência da colonização da Palestina por Israel, Erekat também promoveu a adoção de sanções contra Israel ao invés da –ainda combatida– política de rotular os produtos provenientes das colônias ilegais em território palestino. O diplomata questionou os aliados do governo sionista e colocou em xeque os valores que a liderança europeia diz proteger quando os palestinos anunciaram que, diante da anexação do seu território, já não mais estão vinculados aos acordos diplomáticos dos anos 1990.

“A Palestina continuou comprometida com os princípios do Processo de Paz do Oriente Médio por todo o último quarto de século. Mas Israel ainda assim usou todas as chances que teve para impedir que a paz seja alcançada, tornando este processo um fracasso completo. Por isso, a recente decisão da Palestina é uma rejeição a este fracasso e uma afirmação de que a nossa nação não pode e não pagará o preço da ocupação, das políticas ilegais e das violações, por Israel, das suas obrigações nos acordos assinados,” escreveu Erekat em 8 de junho de 2020.

Coronavirus: Veteran Palestinian chief negotiator Saeb Erekat dies aged 65  | World News | Sky News

“É tempo de uma mudança de rumo, através da qual a comunidade internacional responsabilizará Israel”, afirmou Erekat, não sem antes deixar sobre a mesa a proposta de paz que a Palestina sempre defendeu.

Em fevereiro de 2020, logo pós o rechaço ao plano apresentado pelo governo Trump, que legitimaria a anexação de vastas porções da Palestina por Israel, o presidente Mahmoud Abbas apresentou ao Conselho de Segurança da ONU a proposta que Erekat defendia em outra coluna.

“Nossa visão de paz baseia-se no fim da ocupação israelense, para alcançarmos um Estado da Palestina independente e soberano nas fronteiras de 1967 [anteriores à ocupação militar por Israel na guerra de junho daquele ano], com Jerusalém Leste sua capital. Esta é a concessão histórica que fizemos em prol da paz em 1988, aceitando o controle de Israel sobre 78% da Palestina histórica,” conforme proposto pelo plano de partilha da ONU então adotado pela OLP para iniciar o processo diplomático, deixando a resistência armada.

“Garantir que a comunidade internacional esteja ciente do que Israel e o governo Trump estão fazendo não basta. Salvar a chance de paz requer empenho, acabar com a impunidade de Israel, barrar a possibilidade de anexação e oferecer condições para conversações significativas com base nos termos de referência internacionalmente adotados”, escreveu Erekat. Os palestinos convidaram países amantes da paz a formar um grupo “que trabalharia por implementar o direito internacional” e que “ao invés de facilitar um processo de anexação feito para violá-lo”, facilitaria um processo de paz real.

O compromisso real tem sido o apelo da liderança palestina que Erekat diligentemente representou por todos esses anos e que tão irresponsavelmente Israel e seus aliados rejeitaram. O empenho da chamada comunidade internacional por um processo diplomático realmente significativo, com engajamento coletivo, deve fazer o processo avançar; só assim se poderá responsabilizar Israel, acabar com a ocupação e a colonização e pavimentar o caminho pela libertação, a independência e a soberania do Estado da Palestina. Só assim, os palestinos têm reiterado, será possível alcançar a paz justa.