Avançando com sua luta e demanda pelo retorno ou a verdade sobre o desaparecimento de 43 estudantes da Escola Rural de Ayotzinapa, no México, os pais de vários dos jovens participaram da reunião do Comitê sobre Desaparecimentos Forçados das Nações Unidas em Genebra, na Suíça, em 02/02. Os familiares exigiram que o governo mexicano respondesse sobre o paradeiro dos estudantes e sobre outros 30 corpos encontrados na região, no estado de Guerrero.
Além dos pais dos estudantes desaparecidos em 26 de setembro de 2014, participaram também das reuniões do Comitê membros de organizações não-governamentais e da sociedade civil. Hilda Legideño, mãe do jovem Jorge Tizapa Legideño, esteve entre os participantes que viajaram à Suíça com apoio das ONGs para presenciar a sessão de explicações da delegação oficial do México sobre o desaparecimento dos estudantes.
Assista aqui à matéria da TeleSur (legendada) sobre Caravana Nacional por Informação por Ayotzinapa.
Leia a nota do Cebrapaz emitida no fim de 2014.
Hilda Legideño disse que o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, deveria ser julgado por omissão, denunciando os embustes das autoridades sobre o que ocorreu com os estudantes. A mãe de Jorge reclamou ainda da prática dos oficiais de prestar informações primeiro à mídia, e depois às famílias dos jovens.
As autoridades têm alegado que mais de 90 pessoas foram detidas no dia da repressão ao protesto realizado em Ayotzinapa, quando os estudantes desapareceram, e por isso demoram em localizá-los. Hilda denunciou: “Estão nos ferindo moral e emocionalmente. A Procuradoria-Geral da República disse que nossos filhos estavam em valas, mas isso foi desmentido com a ajuda de peritos argentinos. Queriam entregar-nos corpos que não eram dos nossos filhos. Eles estão vivos e detidos pelo Governo, não sabemos por quê. Se não querem que continuemos, que nos devolvam.”
Bernabé Abraján, pai de Adán Abraján de la Cruz, disse que os familiares esperam ajuda do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos para encontrarem seus filhos, para “exigir justiça pelos que morreram em 26 de setembro (…). Sabemos que nossos filhos estão vivos e queremos encontrá-los.”
O governo mexicano reconheceu que os jovens são vítimas de desaparecimento forçado, até o momento de responsabilidade de autoridades locais envolvidas na repressão do protesto. “México reconhece, sem ambiguidade, que apesar dos importantes avanços no país em matéria de direitos humanos, seguimos enfrentando desafios que devemos superar,” disse o subsecretário de Assuntos Multilaterais e Direitos Humanos da Secretaria de Relações Exteriores, Juan Manuel Gómez Robledo, na sessão em Genebra.
A versão da Procuradoria-Geral da República, no México, é a de que os estudantes foram assassinados e seus corpos, queimados. O chefe da delegação mexicana ofereceu uma reunião com os familiares após a sessão do Comitê sobre Desaparecimentos Forçados. Os pais dos estudantes mostraram novamente sua revolta pela postergação das respostas e do retorno de seus filhos.
Solidariedade ao povo mexicano
O Cebrapaz continua apoiando as organizações sociais e o povo mexicano na exigência por informações sobre o paradeiro dos estudantes, que se somam a milhares de outros desaparecidos ou assassinados. Os 43 jovens foram à Escola, no estado de Guerrero, para protestar contra a discriminação do Governo na contratação de professores ou no financiamento das Escolas, mas foram barrados e violentamente confrontados pela polícia municipal, e possivelmente entregues ao cartel Guerreros Unidos. Exigimos o fim de ações como a repressão que teve lugar em Ayotzinapa e contra os protestos subsequentes, que demandam o retorno dos estudantes.
As ações de grupos criminosos ligados ao narcotráfico ainda são avassaladoras, resultantes de uma política agressiva de repressão e da chamada “guerra contra as drogas”, que só serve para fortalecer o Estado policial, tomando medidas que contradizem diretamente as reivindicações do povo mexicano por um país mais justo e inclusivo. Essas medidas têm na militarização sua alegada política contra o tráfico de drogas, mas acaba por fortalecer a atividade criminal.
Neste contexto, o papel dos EUA é crucial, impulsionando a militarização em todo o continente americano, sob o pretexto de uma “batalha” já comprovadamente falida contra o narcotráfico através das armas, fortalecendo as instituições estatais de poderes repressivos, assim como os grupos militares e paramilitares em vários países. A principal característica desta política é precisamente a repressão e o massacre de civis, sobretudo em áreas rurais.