É preciso denunciar os responsáveis pela tragédia humana da migração de risco e da busca massiva por refúgio

O Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz recebe com consternação as notícias sobre acumuladas tragédias humanas nas travessias migratórias cada vez mais arriscadas. Seres humanos que fogem da pobreza extrema, da insegurança, da violência de conflitos armados, de desastres naturais ou simplesmente desejam migrar têm recorrido a meios precários para fazê-lo, tolhidos desse direito humano por políticas cada vez mais opressivas e xenófobas.

Os mesmos responsáveis pelo desespero que leva milhões de pessoas a deixar seus lares para se lançar à migração de risco fecham suas portas aos que bucam nesses países um refúgio ou um novo futuro. Diante da reação mundial aos crescentes dramas no Mediterrâneo, nas fronteiras terrestres da União Europeia ou nas dos EUA, esses governos reformulam agora suas políticas e redefinem cotas para deixarem pequenas frestas a poucos, recebidos como se de favor, enfrentando a crescente xenofobia na busca por um novo lar.

Os corpos nas praias ou os moribundos resgatados ao mar, vindos principalmente da África e do Oriente Médio, são expressões da atual conjuntura geopolítica mundial. Conflitos perpetuados somam-se às crises sistêmicas para impor a determinadas populações riscos tamanhos que sua solução é o deslocamento ou o refúgio. De acordo com o último relatório da Escola de Cultura de Paz da Universidade Autônoma de Barcelona, havia ao menos 36 conflitos armados ativos no final de 2014: 13 deles na África, 12 na Ásia, seis no Oriente Médio, quatro na Europa e um na América Latina.

Em 2015, mais de 2.300 pessoas já morreram tentando atravessar o Mediterrâneo, principalmente da Eritréia, do Mali, da Síria e do Afeganistão. No ano passado, foram mais de 3.200 mortes na mesma travessia e 307 outras vidas perderam-se na fronteira do México com os Estados Unidos. Desde 2000, mais de 22 mil migrantes morreram tentando alcançar a Europa, de acordo com um relatório da Organização Internacional para a Migração, “Jornadas Fatais” (Fatal Journeys).

Suas travessias são em grande parte impostas pelas políticas imperialistas das potências mundiais, principalmente Estados Unidos e grande parte da União Europeia, que enxergam naqueles países e lares meros tabuleiros para jogadas geoestratégicas e disputas desenfreadas por influência, recursos energéticos e dominação, em avanços neocolonialistas ou intervenções militares ainda assentadas em pretextos torpes. É o caso do Mali, da Líbia, da Síria, do Iraque, do Afeganistão e do apoio incondicional a um dos maiores criminosos de guerra da atualidade, o Estado de Israel, contra o povo palestino.

Migrar, mesmo que não se busque asilo ou refúgio, mas um novo destino, é um direito humano. O seu tratamento como questão de “segurança” ou através de políticas de contenção, militarizadas em certos contextos, é uma das mazelas do século 21. Os efeitos das agressões, do acosso ou da dominação econômica estão entre os principais motivos para que tantas pessoas busquem refúgio e alguma segurança. Existem responsáveis para a atual “crise migratória”, como convencionou-se denominar este contexto, e é preciso denunciá-los. Um sistema global de exploração e guerra é o cenário e as potências imperialistas entre os Estados Unidos e a União Europeia são os protagonistas.

Socorro Gomes
Presidenta do Cebrapaz
10 de setembro de 2015

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