O representante da Frente Popular para a Libertação de Saguía el Hamra e Rio de Oro (Polisario) junto à Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York, Sidi Omar, foi o convidado do primeiro seminário virtual sobre o Saara Ocidental realizado pelo Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), em 21 de abril. O encontro, realizado em espanhol, contou com mais de 30 participantes de diversos países e teve como tema a Descolonização do Saara Ocidental e o Papel da ONU.
A iniciativa enquadrou-se nos esforços da articulação latino-americana e caribenha de entidades solidárias ao povo saarauí de organizar seminários virtuais sobre a luta pela libertação do Saara Ocidental em castelhano, já que sessões em inglês são realizadas por Solidarity Rising semanalmente. Além de oferecer alternativa nestes tempos de pandemia para manter a mobilização das associações solidárias, o encontro virtual também permite alcançar mais pessoas para disseminar informações sobre a luta do povo saarauí por autodeterminação.
Sidi Omar, que é membro do corpo diplomático saarauí desde os anos 1990, doutor em Estudos para a Paz e dos Conflitos e professor visitante de diversas universidades em vários países, representa a Frente Polisario na ONU em Nova York desde 2018. A ONU reconhece a Frente como única representante legítima do povo saarauí no processo de descolonização do Saara Ocidental, que já se arrasta há quase meio século.
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Diante do protelamento da implementação do direito do povo saarauí à autodeterminação, a proposta do seminário foi precisamente discutir o papel da ONU na questão. Omar iniciou sua apresentação, portanto, com uma contextualização histórica sobre as demandas de seu povo, com base no direito internacional e nas variadas resoluções da ONU sobre a descolonização.
O diplomata enfatizou a responsabilidade da comunidade internacional pela injustiça imposta ao povo saarauí ao longo das últimas quatro décadas, enquanto o reino marroquino segue ocupando e colonizando o Saara Ocidental e os saarauís demandam a realização do referendo de autodeterminação. Já passaram quase 30 anos desde que foi assinado o cessar-fogo entre a Frente Polisario e o Marrocos, em 1991, para este fim. O povo saarauí está cansado de esperar; o retorno ao conflito direto, à luta armada, não é a sua intenção, mas emerge como possibilidade diante da negligência internacional.
“A monarquia do Marrocos, com o apoio dos seus aliados no Conselho de Segurança da ONU, pretende manter o estado de coisas, fazer nada para seguir impedindo o cumprimento dos acordos que possibilitariam a autodeterminação e a independência do Saara Ocidental”, denunciou Omar. “A ONU deve se comprometer de forma prática e ativa com o respeito e o cumprimento das suas próprias resoluções”.

Neste sentido, entre as importantes questões colocadas pelos participantes ao final da fala de Omar, contribuindo para um debate enriquecedor e diverso, esteve a do refugiado palestino no Líbano Adel Abu Salem, que contou sobre o projeto em que atua em conjunto com os grupos saarauís Sahrawi Voice e Equipe Media, e indagou o que mais podem esperar palestinos e saarauís de uma comunidade internacional que parece há décadas tê-los abandonado.
Omar enfatizou que os direitos dos povos foram conquistados através de árdua luta, e não entregues por benevolência. Por isso, os saarauís seguem lutando pela implementação desses direitos e cabe aos movimentos internacionais de solidariedade apoiá-los nessa luta, demandando aos seus governos que cumpram com seus compromissos no âmbito do direito internacional.
Entre os participantes de diversos países latino-americanos e europeus e do próprio Saara Ocidental estiveram brasileiros, chilenos, equatorianos, venezuelanos, espanhóis, italianos e portugueses, além das representantes da Frente Polisario na Suíça e para a ONU em Genebra, Omaima Abdeslam, e Fatma Mahfud, que representa a Frente na Itália, e da presidenta do Conselho Mundial da Paz Socorro Gomes. As diversas associações de solidariedade nos vários países se comprometeram em manter o intercâmbio e reforçar suas ações.
O encontro foi mediado pela diretora do Cebrapaz e cientista política Moara Crivelente e novas sessões serão realizadas em breve por outras entidades da articulação latino-americana e caribenha de solidariedade com o povo saarauí.