Imperialismo e globalização em crise: Socorro Gomes participa dos debates no Fórum Temático em Porto Alegre

Entre os dias 19 e 23 de janeiro, Porto Alegre acolheu a comemoração do 15º aniversário do Fórum Social Mundial, um processo de convergência altermundista lançado na mesma cidade ainda em 2001, no auge da agressividade neoliberal imposta desde os círculos da elite imperialista. O Cebrapaz e o Conselho Mundial da Paz estiveram representados pela presidenta Socorro Gomes em duas mesas diferentes, que trataram da atual conjuntura de crise do imperialismo e da globalização como cenários dos mais diversos desafios aos povos do mundo e à sua luta pela paz e a justiça.

Em entrevista ao Portal Vermelho, Socorro destacou a trajetória do Fórum Social Mundial, “marcado por ampla diversidade cultural e política”, e pontuou os aspectos centrais deste processo: “a posição contrária à guerra e pela paz; sua essência anticapitalista, contrária a este sistema deletério e destruidor, e a sua afirmação na busca pelo futuro, uma mensagem positiva de que outro mundo é possível.”

As mesas em que Socorro participou aconteceram nos dias 20 e 22 de janeiro. A primeira, intitulada Globalização, desigualdade e crise civilizatória, foi composta também por Maren Mantovani (StopWall, dedicada à denúncia das políticas de segregação impostas por Israel através da ocupação da Palestina); Leo Gabriel, jornalista austríaco; Cristina Reynold (AIH/Argentina); Caroline Borges (Reaja/Brasil); Claudir Nespolo (CUT); Ruth Coelho (Força Sindical); e o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos.

Socorro destacou o fortalecimento da resistência contra-hegemônica e contestatória, contra um modelo de exploração e especulação “que tem nos povos sua principal vítima e na desigualdade a sua plataforma”, especialmente neste período de intensificada crise internacional. Em todo o mundo, movimentos anti-imperialistas e antineoliberais engajam-se cada vez mais e com maior determinação, sobretudo contra um sistema de relações internacionais e doméstico assentado na militarização, na exploração e na exclusão.

Este é “um sistema que agoniza, que demonstra cada vez mais sinais da sua decadência, embora as reflexões sobre o peso ainda brutal da economia, do exército e da influência dos Estados Unidos e seus aliados levem-nos a ponderar que esta decadência é relativa. Mesmo assim, a crise do império é evidente,” enfatizou Socorro. Movimentos como o Conselho Mundial da Paz e aqueles que se reúnem no Fórum Social Mundial, promovendo o debate e a contestação da hegemonia, “denunciam uma relação de dominação e suas articulações conjunturais que, para a liderança ocidental, em especial a estadunidense, parece natural.”

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Socorro apontou ainda os elevados gastos militares sustentando o imperialismo, especialmente estadunidense, que conta com uma “máquina de guerra e morte” ao seu dispor: a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Neste sentido, a mesa de convergência do dia 22 – promovida por diversos movimentos sociais, inclusive o Cebrapaz – também ofereceu um importante debate. Intitulada Imperialismo em Crise e Ameaças aos Povos com Guerras e Agressões, a mesa teve como convidados Socorro Gomes, Álvaro Garcia Linera (vice-presidente da Bolívia), José Reinaldo de Carvalho (jornalista, secretário de Política e Relações Internacionais do PCdoB), Bem Mohamed (Movimento de Mulheres Jovens da Tunísia), Diego Pautasso (Professor Relações Internacionais/UNISINOS). A mediação ficou a cargo de Edson França (UNEGRO) e Piedad Córdoba (ex-senadora e advogada de direitos humanos da Colômbia).

O representante palestino convidado foi impedido de participar devido à intensificação das condições de controle e repressão impostos por Israel à Cisjordânia ocupada, sobretudo à região em que vive, próxima a Hebron. Ahmad Jaradat, do Centro de Informações Alternativas (Alternative Information Center – AIC, na sigla em inglês) disse ao Cebrapaz, pela internet, que a sua vila, Sa’ir, foi declarada por Israel em 8 de janeiro uma “zona fechada” de controle militar, enclausurando mais de 30 mil palestinos impedidos de atravessar os três pontos de acesso ou saída. Além disso, em confrontos intensificados e na brutalidade da repressão israelense, até o início do Fórum Temático quase 10 palesitnos foram mortos na região em menos de duas semanas.

Agressividade imperialista e militarização

Abordando a conjuntura política e o avanço beligerante do imperialismo, que tem sujeito a África e o Oriente Médio, em especial, mas não apenas, a verdadeiras catástrofes e tragédias. Isso se dá, de acordo com Socorro, devido à política de domínio imperialista: “O saqueio dos recursos energéticos e naturais dos povos passa sempre pela destruição dos seus países ou a sua submissão.”

Socorro destacou a situação do Iraque, da Síria, da Líbia e da Palestina, entre outras. Além disso, na denúncia da persistência do colonialismo, ela trouxe à mesa, além da luta do povo palestino, as lutas dos povos saaraui e porto-riquenho, todos resistentes diante de uma “perseguição voraz e brutal por parte dos regimes que os oprimem, uma prática sistemática contra os combatentes pela justiça e pela paz, os militantes pela causa do seu povo, pela liberdade, pela independência e pela dignidade.

“Presos políticos, muros, proibições, repressão e mortes são denúncias correntes daqueles engajados nessas lutas valentes, na resistência contra a ocupação, a colonização e o imperialismo.”

“É esta a lógica imposta ao Oriente Médio, à África e à América Latina, através da ameaça, do acosso, da guerra ou da aliança com elites e oligarquias locais, reprimindo e perseguindo aqueles que as contestam, ou planejando o golpe contra aqueles que as enfrentam.”

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Socorro saudou novamente a afirmação da América Latina como Zona de Paz pela CELAC como evidência do engajamento dos latino-americanos pela construção de uma região de justiça, integração e solidariedade. Neste ponto, enfatizou o apoio à continuidade da Revolução Bolivariana na Venezuela, sob achaque das oligarquias nacionais de tendências fascistas e apoiadas pelo império, assim como ao aprofundamento do processo de paz da Colômbia.

A nível mundial, a presidenta do CMP e do Cebrapaz destacou o avanço desenfreado e provocador da OTAN, indicando a prioridade do movimento pela paz na demanda pela dissolução da aliança beligerante.

Em 2014, de acordo com o Instituto Internacional de Estocolmo para a Pesquisa sobre a Paz (SIPRI), 34% dos gastos mundiais no setor militar foram dos EUA, quase três vezes mais do que a segunda maior despesa, a da China, de 12%. A decisão de 2006, entre os membros da OTAN, sobre o compromisso de 2% do PIB de cada país para esta máquina de guerra, indica uma ordem militarizada, de ameaça de guerra e de desvio dos recursos dos povos para a violência. Os membros europeus da OTAN gastaram naquele ano US $ 250 bilhões.

Socorro Gomes apontou ainda à determinada luta pela abolição das armas nucleares e outras armas de destruição em massa, assim como pela eliminação de todas as bases militares estrangeiras espalhadas pelo mundo. “A militarização do planeta, por tanto, é um tema central em nossa agenda e devemos mantê-lo entre os itens mais importantes,” ressaltou.

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