Congresso Internacional de Mulheres promove unidade na luta pela justiça e a paz; leia a fala de Socorro Gomes

Decorreu em 20 e 21 de setembro o 1º Congresso Internacional de Mulheresem Caracas, Venezuela. Sob o lema “Pela Paz e a Solidariedade entre os Povos”, a declaração final do evento rechaça os ataques e ingerências do imperialismo estadunidense e defende o “direito de viver em paz”. Cerca de 700 delegadas e convidados de 20 países participaram, inclusive a presidenta do Conselho Mundial da Paz, Socorro Gomes. Leia a seguir o seu discurso.

CONGRESSO INTERNACIONAL DE MULHERES
20 e 21 de setembro de 2019 | Caracas, Venezuela
Discurso de Socorro Gomes
Presidenta do Conselho Mundial da Paz

Quero saudar as e os organizadores deste importante e necessário encontro. É imenso o prazer de partilhar este espaço com vocês na capital da resistência, Caracas. Agradeço aos amigos e amigas do PSUV pelo convite que muito nos honra.

Somos muitas e diversas em nossa luta comum por um mundo de justiça social, igualdade e paz, na resistência irredutível, diária e persistente à exploração, à opressão, à desigualdade e às agressões que tanto causam sofrimento e impedem o nosso progresso histórico de prosperidade compartilhada.

A realização deste magno evento, sob os auspícios do PSUV, dedicado à luta das mulheres por seus direitos, e pelos direitos universais da Humanidade e a Paz, coincide com as celebrações internacionais do Dia Mundial da Paz. Demonstra assim o compromisso da Revolução Bolivariana com os anseios dos povos pela democratização das relações internacionais e a paz mundial.

Criado em 1981 na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, o Dia Mundial da Paz é um chamado aos povos, nações e governos pela abertura de caminhos diplomáticos, políticos e pacíficos para criar um ambiente de convivência harmônica pelo bem de toda a humanidade. Um brado de luta contra a guerra imperialista, a violação do direito sagrado à autodeterminação dos povos, um grito de basta ao intervencionismo.

Nunca é demais repetir a vigência dos princípios da Carta das Nações Unidas e invocá-los, no momento em que se celebra o Dia Mundial da Paz e quando esses princípios são violados pelas potências imperialistas: a coexistência pacífica entre nações soberanas, um mundo de equilíbrio e respeito mútuo entre os Estados nacionais, independentemente das dimensões territoriais, da pujança econômica e do poderio de cada país, a solução pacífica das controvérsias.

O Conselho Mundial da Paz associa-se às celebrações do Dia Mundial da Paz, irmanado com o povo venezuelano e as forças motrizes e dirigentes de sua Revolução Bolivariana, desejando que multiplique ainda mais as suas capacidades na resistência heroica contra os intentos golpistas, o boqueio econômico, financeiro e comercial, as ingerências externas, a campanha de desestabilização, as provocações e as ameaças de guerra.

Nesta ocasião, chamamos as forças amantes da paz a intensificarem seus esforços nas lutas sociais e políticas, a se mobilizarem em defesa da paz e pela superação dos graves impasses em que vive a humanidade.

As potências imperialistas, no afã de dominar o mundo, intensificam ameaças e desencadeiam conflitos, fazem guerras contra países soberanos e promovem a militarização desenfreada, multiplicando suas bases em territórios de países soberanos e aumentando seus arsenais de armas de destruição em massa. Não raras vezes, praticam o terrorismo de Estado e cometem genocídio.

Aumentam no mundo os conflitos políticos, as contradições entre as próprias potências imperialistas, a concorrência por mercados e zonas de influência, a rivalidade pelo domínio do mundo. Tudo isso resulta em ameaças à paz e à segurança internacional.

Atualmente, está em curso uma escalada de pressões, ingerências e ameaças contra a Venezuela, um cenário ofensivo, de preparação para uma agressão militar, com que o imperialismo estadunidense e seus lacaios, entre estes os governos de extrema-direita de Jair Bolsonaro e Iván Duque, pretendem conflagrar toda a região da América Latina e Caribe.

Mobilizamo-nos de forma inconfundível contra as ameaças à Venezuela bolivariana, solidarizamo-nos com sua luta contra a tentativa da Organização de Estados Americanos e os aliados do imperialismo estadunidense de ativar o infame Tratado Interamericano de Assistência Recíproca – TIAR, que poderia até mesmo, se dependesse apenas da vontade de agressores como Trump, Duque e Bolsonaro, levar à intervenção militar no país irmão. Tanto a OEA quanto o tratado são instrumentos a serviço do império. Uma intervenção na Venezuela seria um crime de agressão e mais uma afrontosa violação do direito internacional, dos princípios mais elementares da Carta das Nações Unidas.

Na celebração deste Dia Mundial da Paz, fazemos um apelo especial: Tirem as mãos da Venezuela! Reafirmamos solidariedade plena com este povo irmão corajoso, construtor da unidade latino-americana e da paz.

Os povos têm resistido e lutado contra as atrocidades de um sistema internacional iníquo, sustentado na opressão pelas potências colonialistas, imperialistas e beligerantes, mas também promovido por forças nacionais reacionárias, neoliberais e ultraconservadoras com as quais o império se alia, impedindo o progresso histórico das sociedades em diferentes países e da humanidade em geral.

No Conselho Mundial da Paz, entidade que nasceu da resistência antifascista, anticolonialista e anti-imperialista e completa 70 anos de luta em 2019, nossas campanhas e ações refletem as prioridades ainda atuais da humanidade. Concentramos esforços na luta pela dissolução da Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN, bloco político-militar anacrônico, uma máquina de guerras do imperialismo; na abolição das armas nucleares, que têm como único propósito a aniquilação e cuja utilização, pela primeira vez, contra o Japão, já demonstrou o tamanho da catástrofe que provoca; na eliminação das bases militares estrangeiras, postos avançados do imperialismo para a ameaça, o cerco, a intimidação e o saque dos recursos dos povos; na descolonização e no fim das ocupações militares das terras de heroicos povos como o da Palestina, de Porto Rico, do Saara Ocidental e das Malvinas argentinas, entre outros.

Buscamos a unidade e a convergência mais ampla possível para enfrentarmos juntas e juntos estas que são ameaças a toda a humanidade impostas pela sanha imperialista de dominação de povos e regiões inteiras. Além de nos somarmos à luta do povo cubano contra o criminoso bloqueio imposto pelos EUA há cerca de seis décadas contra Cuba, temos denunciado também as agressões, ingerência e sanções impostas contra Venezuela, Irã, Síria e a República Popular Democrática da Coreia pelo império e seus aliados, na tentativa de desestabilizar essas nações e derrubar governos que não se curvam aos desmandos das potências.

Em nossas batalhas diárias pela igualdade na justiça social, pelos direitos das mulheres em sociedades patriarcais, machistas, de extrema desigualdade – e em tempos tomadas por forças reacionárias, de um conservadorismo fundamentalista e retrógrado – partilhamos a trincheira na luta por avanços e na defesa das conquistas que alcançamos, mas que têm sido sistematicamente golpeadas por aquelas forças antidemocráticas que também vilipendiam nossa mobilização, nossas entidades e nossas lutas.

As forças reacionárias sabem que à medida que os povos, os trabalhadores, as mulheres, a juventude, negros, indígenas e comunidades rurais e urbanas historicamente marginalizadas conquistam direitos, reivindicaremos mais! Afinal, é essencialmente a defesa da democracia, da justiça social e do futuro de prosperidade e paz para todas e todos que nos move.

Exemplo disto está na luta destemida do povo venezuelano diante das ameaças imperialistas contra a sua nação. As criminosas medidas impostas pelos Estados Unidos, em conluio com uma oposição antipatriótica e acatadas por governos submissos aos seus desígnios, têm impactado toda a população, especialmente os setores que avançam no projeto nacional pela inclusão e a construção de uma sociedade mais justa.

Mas o povo segue valente, resiliente, defendendo conquistas alcançadas através da Revolução Bolivariana e a soberania popular e nacional.

Foram-se os tempos em que os EUA ditavam com facilidade os rumos das nossas nações na América Latina e Caribe, articulando golpes sangrentos, promovendo a instalação de forças golpistas, neoliberais e terroristas nos governos para garantir seu controle estratégico da região. Embora haja atualmente governos servis e profundamente destrutivos, instalados inclusive após golpes de Estado travestidos de processos políticos e judiciais, como no Brasil, onde também nos mobilizamos em resistência diária, a luta revolucionária segue viva há décadas em Cuba, na Venezuela e na Nicarágua, onde povos heroicos não arredam pé na defesa do seu direito à autodeterminação, mestres dos seus destinos.

A autodeterminação dos povos deve ser defendida com redobrado compromisso. As potências imperialistas buscam relativizar fundamentos como a autodeterminação e a soberania dos nossos países enquanto garantem que as delas seguem inquestionáveis, intocáveis, numa persistente política neocolonial. Usam bandeiras caras a nós, como direitos humanos, os direitos das mulheres, dos povos indígenas, das comunidades afrodescendentes, a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais e a promoção da democracia como pretextos para exercer ingerência inaceitável em nossos assuntos.

Mesmo em tempos de desafios extremados como nos países sob golpes fantasiados de processos políticos / judiciais, nossas lutas, que se fortalecem através da sincera e honesta solidariedade internacional, são apenas nossas. A defesa da democracia, da justiça social e da paz é internacional e compartilhada, é o que nos une numa grande frente comum, mas definir a forma da nossa luta e nossos rumos é tarefa soberana de cada povo.

Por isso, companheiras e companheiros, em nossa inarredável solidariedade aos povos em luta pela paz, a democracia, a soberania das suas nações e da construção de sociedades mais justas de forma autônoma, livre das ingerências das potências imperialistas, cumpre fortalecermos nossa frente conjunta.

Cabe aos movimentos populares, às forças democráticas e da paz reforçar a unidade não apenas pela defesa das conquistas que já alcançamos, mas pelo avanço rumo às sociedades mais justas que almejamos construir, ao sistema internacional de paz e amizade entre os povos. Os pilares para esta edificação já conquistamos e, apesar dos desafios, obstáculos e ameaças que cada um dos nossos povos enfrenta, a certeza é a de que juntas e juntos, venceremos!