Entidades sérvias apelam contra a nomeação da OTAN ao Prêmio Nobel da Paz

Embora a lista de candidatos ao Prêmio Nobel da Paz, este ano com mais de 300 nomeados, seja confidencial, informações vazadas de que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) estaria nela já provocaram a reação do movimento da paz. O resultado sai em outubro. O presidente estadunidense recordista no uso de drones em ataques que mataram inúmeros civis no Paquistão e Afeganistão, entre outros crimes, Barack Obama, e também os “Capacetes Brancos” que atuam na Síria ao lado de grupos terroristas, estão entre beneficiados ou nomeados em anos anteriores, o que tem posto em causa a condecoração. Leia a seguir a mensagem do Fórum de Belgrado por um Mundo de Iguais sobre a iniciativa das entidades sérvias.

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Em manifestação em 2019, nos 20 anos dos ataques da OTAN, sérvios afirmam: “Nunca os perdoaremos por matar nossas crianças”

CARTA ABERTA AO COMITÊ NORUEGUÊS DO NOBEL
Do Fórum de Belgrado, Clube de Generais e Almirantes da Sérvia, Fundação União pela Juventude, Sociedade de Anfitriões Sérvia

Após tomarmos conhecimento da notícia publicada na mídia sérvia de que vários membros noruegueses do Parlamento lançaram oficialmente uma iniciativa para que o Prêmio Nobel da Paz fosse concedido à OTAN, o Fórum de Belgrado por um Mundo de Iguais, o Clube de Generais e Almirantes da Sérvia, Fundação União pela Juventude, Sociedade de Anfitriões Sérvia enviaram conjuntamente uma carta aberta ao Comitê Norueguês do Nobel.

A carta lembra que há 21 anos a OTAN levou a cabo uma agressão ilegal contra a Sérvia (República Federal da Iugoslávia), agindo por sua conta e sem aprovação do Conselho de Segurança da ONU, em grave violação da Carta da ONU, a Ata Final de Helsínquia, várias outras convenções e sua própria Ata Fundador de 1949.

A carta nota que a agressão custou entre 3.500 e 4.000 vidas (a lista não foi ainda concluída), inclusive 89 crianças, e deixou mais de 12.500 feridos, com o número de mortes posteriores em consequência dos ferimentos ainda a determinar. O dano econômico direto foi estimado em mais de USD 100 bilhões.

A agressão foi a primeira guerra em solo europeu após a Segunda Guerra Mundial, um precedente para a condução de intervenções ilegais em todo o mundo, violando a Carta da ONU, prejudicando o papel do Conselho de Segurança da ONU e incitando o separatismo e o terrorismo. Marcou o ponto em que a OTAN se transformou de aliança defensiva para ofensiva, atropelando o princípio da ONU de que a paz deve ser defendida por meios pacíficos apenas.

A carta lembra do uso, pela OTAN, de mísseis com urânio empobrecido e outros armamentos proibidos que deixam graves e duradouros efeitos, o que foi firmemente condenado no Parlamento Europeu, a Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa e os parlamentos nacionais de muitos países membros da OTAN (e da UE). O uso de urânio empobrecido deixou consequências duradouras e continua causando doenças em escala massiva e prejudicando as vidas de milhares de pessoas inocentes.

O texto conclui, considerando o mencionado, que a agressão da OTAN de 1999 foi essencialmente um crime contra a paz e a humanidade que, além do sofrimento humano e da enorme devastação, também deu duro golpe contra a paz e a estabilidade nos Balcãs, na Europa e no mundo em geral. Foi o início da nova Guerra Fria afrontando o mundo hoje.

Os signatários da carta, em nome das suas organizações, Živadin Jovanović, General Milomir Miladinović, Professor Dr. Danica Grujičić e Nicifor Anicic, expressaram sua esperança de que o Comitê Norueguês do Nobel leve em conta o que manifestaram.

Belgrado, 20 de março de 2020

Marina Čolić, Secretária Executiva
Fórum de Belgrado por um Mundo de Iguais