Como esperado, na segunda-feira (18), apenas os EUA vetaram a resolução proposta pelo Egito ao Conselho de Segurança das Nações Unidas para anular o reconhecimento de Jerusalém como a capital de Israel, anunciado pelo presidente estadunidense Donald Trump no início do mês. Mas o esforço por dar resposta à medida unilateral do aliado de Israel continua. Na terça (19), 176 membros aprovaram na Assembleia Geral uma resolução pelo direito do povo palestino à autodeterminação e, nesta quinta (21), devem votar uma resolução semelhante à proposta ao Conselho de Segurança.

Citado pela agência palestina de notícias Wafa, o chefe da Missão Observadora Permanente do Estado da Palestina na ONU, Riyad Mansour, disse que a aprovação da resolução pelo direito à autodeterminação — similar ao que ocorre todos os anos — mostra, neste momento, que “o mundo rejeita a nova posição estadunidense sobre Jerusalém, o que aumenta seu isolamento, porque decidiu ficar do lado do estado ocupante, Israel”. A resolução aprovada na Assembleia Geral apenas um dia após o veto dos EUA no Conselho de Segurança.
O coordenador especial da ONU para o Processo de Paz no Oriente Médio Nickolay Mladenov demonstrou preocupação com a situação na Palestina ocupada. “Nenhum dos eventos no terreno podem ser separados do contexto mais abrangente em que estão ocorrendo: incertezas sobre o futuro do processo de paz; ações unilaterais que prejudicam a solução de dois estados; ocupação; e violência”, disse, citado pelo site de notícias da ONU.
Uma nova resolução a ser debatida na Assembleia Geral nesta semana deve afirmar o direito do povo palestino à soberania sobre os seus recursos naturais nos territórios ocupados – inclusive Jerusalém Oriental, porção que o chamado consenso internacional considera a futura capital do Estado da Palestina, a ser estabelecido ao lado do Estado de Israel. A nova proposta será discutida em uma sessão especial intitulada “Unidos pela Paz”, convocada pela Palestina, para transferir os poderes do Conselho de Segurança à Assembleia Geral, permitindo a votação na mesma proposta de resolução vetada, de acordo com a Wafa.
Após o anúncio ilegítimo e unilateral do presidente estadunidense de que os EUA reconhecem Jerusalém como a capital do Estado de Israel – embora este seja um dos temas centrais no infindável “processo de paz” negociado há duas décadas –, fica ainda mais evidente o que já era claro, que os Estados Unidos não são mediadores, mas aliados de uma das partes, a potência ocupante.
Por isso, milhares de palestinos, já há sete décadas revoltados com a intensificação da colonização da Palestina ocupada por Israel e com as condições subjacentes — inclusive a repressão brutal e cotidiana — têm protestado contra a decisão de Trump como um agravante da situação e uma afronta.

Nesta quarta (20), protestos em toda a Palestina ocupada – na Cisjordânia, Jerusalém Leste e Faixa de Gaza, fragmentadas pela ocupação israelense – respondem à convocatória nacional às manifestações que coincide com a visita do vice-presidente estadunidense Mike Pence, adiada na última hora. São esperados confrontos com os soldados israelenses mobilizados para a sua repressão, afirma a Wafa. Segundo a Sociedade de Prisioneiros Palestinos (PPS, na sigla em inglês), desde o anúncio de Trump, em 6 de dezembro, 490 pessoas já foram detidas, inclusive 148 menores de idade.
Ao menos 10 pessoas já foram mortas no mesmo período, de acordo com a agência palestina de notícias Maan — seis na primeira semana após o anúncio de Trump: quatro em ataques aéreos israelenses e dois em confrontos, em Gaza.
De acordo com a Wafa, o governo palestino liberou todos os funcionários para garantir que o maior número possível de pessoas pudesse participar das marchas por toda a Palestina ocupada e tem denunciando o papel dos EUA, se recusando a conversar com representantes estadunidenses.
A última tentativa frustrada de retomada das negociações ocorreu entre julho de 2013 e o início de 2014 e foi coroada com uma nova ofensiva militar de Israel contra a Faixa de Gaza que durou quase dois meses, matando mais de 2.200 pessoas, maioritariamente civis, e devastando um território há 10 anos sitiado. Ao mesmo tempo, uma nova “operação” matava e detia mais palestinos e palestinas na Cisjordânia e a continuidade da colonização da Palestina ocupada era garantida pelo governo do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.
Líderes políticos e religiosos e movimentos populares de todo o mundo rechaçaram o anúncio de Donald Trump sobre Jerusalém, inclusive os representantes diplomáticos da União Europeia. No Conselho de Segurança, até mesmo os membros permanentes Reino Unido e França, geralmente aliados, respaldaram a resolução que pedia o anulamento da decisão – o que a representante estadunidense condenou como uma interferência na soberania de seu país, de acordo com o diário britânico The Guardian. Seu posicionamento foi aplaudido por ninguém mais do que o próprio Netanyahu, em crescente isolamento internacional.
Citado pelo Guardian, um diplomata palestino reafirmou que está claro o papel dos EUA e que, no bojo dos avanços diplomáticos, o povo palestino necessita cada vez mais de apoio internacional.
Cebrapaz,
Moara Crivelente
*Autalizada às 12h20 para incluir informações sobre a sessão especial da Assembleia Geral e sobre o relatório do coordenador especial Nickolay Mladenov.
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