Em semana de votações na ONU e protestos na Palestina, EUA seguem evidenciando seu papel

Como esperado, na segunda-feira (18), apenas os EUA vetaram a resolução proposta pelo Egito ao Conselho de Segurança das Nações Unidas para anular o reconhecimento de Jerusalém como a capital de Israel, anunciado pelo presidente estadunidense Donald Trump no início do mês. Mas o esforço por dar resposta à medida unilateral do aliado de Israel continua. Na terça (19), 176 membros aprovaram na Assembleia Geral uma resolução pelo direito do povo palestino à autodeterminação e, nesta quinta (21), devem votar uma resolução semelhante à proposta ao Conselho de Segurança.

Confrontos são frequentes no posto de controle militar israelense em Calândia, Palestina Ocupada. Foto: Ahmad Gharabli/AFP/Getty Images, setembro de 2011.

Citado pela agência palestina de notícias Wafa, o chefe da Missão Observadora Permanente do Estado da Palestina na ONU, Riyad Mansour, disse que a aprovação da resolução pelo direito à autodeterminação — similar ao que ocorre todos os anos —  mostra, neste momento, que “o mundo rejeita a nova posição estadunidense sobre Jerusalém, o que aumenta seu isolamento, porque decidiu ficar do lado do estado ocupante, Israel”. A resolução aprovada na Assembleia Geral apenas um dia após o veto dos EUA no Conselho de Segurança.

O coordenador especial da ONU para o Processo de Paz no Oriente Médio Nickolay Mladenov demonstrou preocupação com a situação na Palestina ocupada. “Nenhum dos eventos no terreno podem ser separados do contexto mais abrangente em que estão ocorrendo: incertezas sobre o futuro do processo de paz; ações unilaterais que prejudicam a solução de dois estados; ocupação; e violência”, disse, citado pelo site de notícias da ONU.

Uma nova resolução a ser debatida na Assembleia Geral nesta semana deve afirmar o direito do povo palestino à soberania sobre os seus recursos naturais nos territórios ocupados – inclusive Jerusalém Oriental, porção que o chamado consenso internacional considera a futura capital do Estado da Palestina, a ser estabelecido ao lado do Estado de Israel. A nova proposta será discutida em uma sessão especial intitulada “Unidos pela Paz”, convocada pela Palestina, para transferir os poderes do Conselho de Segurança à Assembleia Geral, permitindo a votação na mesma proposta de resolução vetada, de acordo com a Wafa.

Após o anúncio ilegítimo e unilateral do presidente estadunidense de que os EUA reconhecem Jerusalém como a capital do Estado de Israel – embora este seja um dos temas centrais no infindável “processo de paz” negociado há duas décadas –, fica ainda mais evidente o que já era claro, que os Estados Unidos não são mediadores, mas aliados de uma das partes, a potência ocupante.

Por isso, milhares de palestinos, já há sete décadas revoltados com a intensificação da colonização da Palestina ocupada por Israel e com as condições subjacentes — inclusive a repressão brutal e cotidiana — têm protestado contra a decisão de Trump como um agravante da situação e uma afronta.

Ahed Tamimi, jovem de 16 anos conhecida na resistência aos soldados israelenses, foi detida na madrugada desta terça (19) em Nabih Saleh. Sua mãe também foi detida horas depois, ao visitá-la.

Nesta quarta (20), protestos em toda a Palestina ocupada – na Cisjordânia, Jerusalém Leste e Faixa de Gaza, fragmentadas pela ocupação israelense – respondem à convocatória nacional às manifestações que coincide com a visita do vice-presidente estadunidense Mike Pence, adiada na última hora. São esperados confrontos com os soldados israelenses mobilizados para a sua repressão, afirma a Wafa. Segundo a Sociedade de Prisioneiros Palestinos (PPS, na sigla em inglês), desde o anúncio de Trump, em 6 de dezembro, 490 pessoas já foram detidas, inclusive 148 menores de idade.

Ao menos 10 pessoas já foram mortas no mesmo período, de acordo com a agência palestina de notícias Maan — seis na primeira semana após o anúncio de Trump: quatro em ataques aéreos israelenses e dois em confrontos, em Gaza.

De acordo com a Wafa, o governo palestino liberou todos os funcionários para garantir que o maior número possível de pessoas pudesse participar das marchas por toda a Palestina ocupada e tem denunciando o papel dos EUA, se recusando a conversar com representantes estadunidenses.

A última tentativa frustrada de retomada das negociações ocorreu entre julho de 2013 e o início de 2014 e foi coroada com uma nova ofensiva militar de Israel contra a Faixa de Gaza que durou quase dois meses, matando mais de 2.200 pessoas, maioritariamente civis, e devastando um território há 10 anos sitiado. Ao mesmo tempo, uma nova “operação” matava e detia mais palestinos e palestinas na Cisjordânia e a continuidade da colonização da Palestina ocupada era garantida pelo governo do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.

Líderes políticos e religiosos e movimentos populares de todo o mundo rechaçaram o anúncio de Donald Trump sobre Jerusalém, inclusive os representantes diplomáticos da União Europeia. No Conselho de Segurança, até mesmo os membros permanentes Reino Unido e França, geralmente aliados, respaldaram a resolução que pedia o anulamento da decisão – o que a representante estadunidense condenou como uma interferência na soberania de seu país, de acordo com o diário britânico The Guardian. Seu posicionamento foi aplaudido por ninguém mais do que o próprio Netanyahu, em crescente isolamento internacional.

Citado pelo Guardian, um diplomata palestino reafirmou que está claro o papel dos EUA e que, no bojo dos avanços diplomáticos, o povo palestino necessita cada vez mais de apoio internacional.

Cebrapaz,
Moara Crivelente

*Autalizada às 12h20 para incluir informações sobre a sessão especial da Assembleia Geral e sobre o relatório do coordenador especial Nickolay Mladenov.


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